Brasileiros na maior prova do Ultra-Trail du Mont-Blanc
Brasileiros foram sexto no Mount-Blanc
Depois de correr por dois anos consecutivos (2008 e 2009) o UTMB que é uma das provas do Ultra-Trail du Mont-Blanc com 166 Km e 9.500 metros de desnível, em 2010 Décio Ribeiro resolve se arriscar no PTL (Lá Petite Trotte à Leon) a maior prova do Ultra-Trail du Mont-Blanc neste ano a prova era de 240 km com 18.000 metros de desnível ao lado de Décio Ribeiro estava seu aluno e amigo André Arruda já que pela grande dificuldade da prova e por segurança este desafio e realizado em duplas ou em trios assim sendo a primeira equipe brasileira a participar desta ultramaratona.
A dificuldade da prova foi tão grande que das 80 equipes que largaram neste ano de 2010 somente 02 equipes completaram o percurso da prova, e por problemas respiratórios, Décio Ribeiro foi obrigado a abandonar a prova ainda no km 75 onde até então mantinha a 5º posição junto com André Arruda.
Não Satisfeito pelo desempenho de 2010 Décio resolve tentar novamente neste ano de 2011, porem desta vez ao lado de Luis Mazzotini, experiente corredor de aventura e um exímio navegador já que nesta corrida a navegação é fundamental, pois o percurso deve ser realizado através do uso de mapas (cartas topográficas) e GPS o que torna um fator determinante na corrida.
Porém neste ano de 2011 o desafio era ainda maior o PTL de 240 Km passou a ter 300 km o dos 18.000 metros de desnível passou a ter 25.000 metros de desnível para se ter uma ideia da dificuldade do terreno isto é o equivalente a subir e descer o monte Everest desde o nível do mar por três vezes seguidas e tendo um tempo limite de 138 horas para concluir a prova.
Em função do acontecido no ano passado os atletas resolvem ir com seis dias de antecedência da largada da prova que ocorreu no dia 22 de agosto as 22:00 em Chamonix França com o objetivo aclimatar melhor forma possível já que por muito tempo iriam permanecer em altitudes acima dos 2500 metros atingindo os 3000 metros. Primeiramente os atletas ficaram no hotel refugio (Praion) em Lês Houches (próximo a Chamonix) a 2000 de altitude onde puderam realizar alguns treinos, já no sábado dia 20 de agosto, procurando melhorar a aclimatação Décio e Luis, sobem para uma montanha denominada de agulhas de midi a 3848 metros de altitude onde ficaram por cerca de 6h no sábado repetindo o feito no domingo sempre verificando através de um oximetro (aparelho que mede a quantidade de oxigênio no sangue) como o organismo estava reagindo à aclimatação os atletas então puderam constatar uma melhora significativa no nível de oxigênio o que iria ser fundamental para um bom desempenho na prova.
Segunda-Feira dia 22 de agosto:
As 15:00 horas tem o inicio do brieffing no ginásio de esportes de Chamonix onde é realizada a checagem de equipamentos obrigatórios, documentos, entrega do GPS e confirmação do celular habilitado.
18:00 horas o retorno ao brieffing e entrega dos dois sacos de apoio que os atletas teriam para usar sendo o 1º no km 110 em Morgex e o 2º em Champex no km 195, onde nos mesmos poderiam deixar roupas de reserva, equipamentos, suplementos, etc., na sequencia se inicia uma explanação de como seria a prova, e depois um jantar de massas.
A tão esperada hora chega e largada se da as 22:00 horas com Décio Ribeiro e Luis Mazzotini iniciando a prova em ritmo confortável já que ainda teriam pela frente a partir deste momento 300 km a serem percorridos, a largada é uma festa com a rua lotada de publico aplaudindo e torcendo por cada atleta mesmo que desconhecido que ali estava para enfrentar o grande desafio, esta festa se deu por pelo menos os 10 primeiros quilômetros até iniciar a primeira grande subida onde a cidade de Chamonix foi ficando para traz. A ansiedade para largada e euforia foi tanta que só depois de ter percorrido cerca de 3 km após a largada que Luis se deu conta que esqueceu os mapas dos primeiros 67 km no hotel ficando então a dupla na total dependência do GPS.
Começo de prova todo mundo com energia sobrando e com adrenalina a mil na primeira subida as duplas e trios colocam um ritmo bastante forte acima da zona de conforto porem o espirito competitivo faz com que não se deixe ser ultrapassado e foi assim que a dupla brasileira seguiu madrugada adentro erro este que acabou tendo consequências mais tarde.
Terça-Feira dia 23 de agosto:
A estratégia da equipe D-run Fortitech Brasil foi de realizar uma prova carregando pouco peso somente os equipamentos obrigatórios e com os alimentos que fossem ser consumidos até atingir o próximo vilarejo ou refugio de montanha com isso largaram com apenas dois lanches na mochila que seriam consumidos ao longo da madrugada e na sequencia pretendiam no final da madrugada encontrar o primeiro local para compra de alimentos que iriam substituir os lanches já consumidos porem nada foi encontrado segundo erro que teve consequências prematuras, pois somando o ritmo forte da largada e a falta de alimento no inicio da manhã, o Luis, passou mal, sentindo tontura, enjoo, onde foi necessário diminuir bastante o ritmo ate que o atleta recupera-se totalmente. E foi somente no final da tarde por volta das 18h00min 60 km percorridos e 5000 metros de desnível percorridos que Décio e Luis encontram o primeiro refugio aberto, onde puderam comer um belo prato de macarronada, ovos mexidos, e sete latinhas de coca cola. Agora alimentados e mais confiantes seguiram com o desafio em um processo de recuperação de posição e alguns quilômetros a frente após uma longa subida e uma longa descida os atletas recebem uma orientação da organização da prova que não mais fariam o trajeto pelo Col de Rousses sendo este modificado para o Col de Forclass esta mudança levou os atletas para uma subida extremamente difícil tornando-se uma verdadeira escalada onde era impossível de se subir sem o auxilio das mãos de apoio sendo esta uma subida bastante perigosa e que exigiu bastante dos atletas onde em seguida atingiriam o primeiro ponto de apoio em Le petite San Bernard Km 80 e 7000 de desnível percorridos, local em que a organização da prova iria fornecer alimentos e alojamento a dupla atinge o local as 01:00 da quarta-feira dia 24 onde se alimentam e tem o primeiro descanso.
Quarta-Feira dia 24 de agosto:
Após dormirem por apenas 3:30 os atletas acordam tomam um reforçado café fornecido pela organização abastecem as mochilas com alimentos e saem por volta das 5h da manha em direção a Morgex km 110 da competição e 10.000 metros de desnível percorridos é ainda de dia quando conseguem chegar a Morgex as 16h15 onde foi possível tomar um rápido banho, trocar de roupa, alimentar-se, repor os suplementos na mochila e partir para o trecho que iria levar os corredores até Borg San Pierre, trecho este em que por mais 60 km não teriam apoio algum de refúgios e da organização.
O dia foi bastante puxado sempre com muita subida e descidas por trilhas bastante características do PTL com nível de dificuldade alto e sempre com muitas pedras e cascalhos porem foi um dia em que a dupla rendeu bastante ao cair da noite a atenção deve ser aumentada, pois se exige mais da navegação foi uma noite bastante dura devido ao cansaço e ao sono, mas era estratégia da equipe dormir o mínimo possível e mais uma noite foi atravessada em claro sem dormir.
Quinta-Feira dia 25 de agosto:
Apesar do sono Décio e Luis passam a noite bem, concentrados e focados no objetivo de ao menos concluir a prova aonde chegam a Borg San Pierre as 15h30, local e que se pode fazer um belo de almoço a base de massa e um bife e também mais algumas varias coca colas. Repostas as energias, mas não o sono o objetivo agora era chegar a Champex segundo e ultimo ponto de apoio fornecido pela organização onde seria possível encontrar o segundo saco de apoio com mais roupas limpas, pilhas e suplementos o planejamento era de chegar lá antes da meia noite e em um ritmo constante e sem errar na navegação atingem o objetivo chegando a Champex as 23h15 o Décio já apresentava varias dores no pé e o Luis sofrendo um pouco com seu joelho e também dores e bolhas nos pés. Os atletas então se alimentam, hidratam, repõem os suplementos da mochila, e dormem por mais 3h de sono já que estavam há 44 horas sem dormir, acordam e saem novamente as 5:00 da manhã com a orientação da organização da prova que teríamos que seguir por mais um caminho alternativo onde todas as equipes estariam tendo que seguir eles nos orientam também que foram obrigados a fazer uso destes caminhos alternativos, pois senão nenhuma equipe terminaria a prova até o domingo de vido a dificuldade da corrida.
Sexta-Feira dia 25 de agosto:
Com o objetivo de recuperar posições e também o tempo perdido pela queda do ritmo devido às dores nos joelhos, pés e bolhas os atletas planejam não mais dormir até o termino da corrida já que tinham rompido a barreira dos 200 km e 16000 metros de desnível positivos percorridos. De Champex se inicia uma longa descida até Martiny para na sequencia subir por lindos parques de pinheiros ate chegar a Marecottes, onde pela terceira vez recebem orientação da organização que deveriam seguir por um caminho alternativo o que os poupariam de atravessar o pico do Luisin, tal decisão foi tomada pela direção de prova, pois no pico esta chegando uma tempestade aonde somente as cinco primeiras equipes que chegaram antes da tempestade puderam passar pelo pico. A D-run Fortitech Brasil seguem pela rota imposta pela direção de prova mesmo sofrendo com dores nos pés e joelho, até atingir o local da rota original do PTL no refugio de Susanfe, a beira de uma enorme barragem a 2300 m altitude, as 19:00h depois de 240 km e 20000 metros de desnível percorridos lá jantaram abasteceram a mochila com lanche e seguiram noite adentro.
No final da noite por volta das 23:00 começa a chover e a dupla atinge um refugio onde as equipes que estavam na frente pararam para dormir incentivados pela noticia que havia pelo menos umas cinco equipes dormindo os atletas seguem com o objetivo de não dormir até a chegada e assim poder ganhar posições através desta estratégia e então prosseguem subindo em baixo de chuva mesmo.
Sábado dia 26 de agosto:
No inicio da madrugada a chuva piora um pouco e vira chuva de granizo o que assusta um pouco os atletas, pois o vento também aumenta o que aumenta a sensação de frio, retornar para o refugio não estava em questão no momento. Não demorou muito para que essa chuva em pleno verão europeu se transformasse em neve e em seguida numa nevasca terrível, muito focados em sair desta situação os atletas prosseguem exigindo muita coragem, concentração e determinação, pois as trilhas se apagaram completamente com a neve, o deslocamento ficou ainda mais lento e cuidadoso onde por diversos momentos passaram por locais bastante íngremes e que se tornaram escorregadios com o gelo, achando que aquela situação não pudesse piorar a dupla chega a um abismo em que o único caminho era subir uma parede de cerca de 20 metros verticais onde ferros fincados na rocha faziam papel de escada correntes e cabos de aço faziam o papel de cordas e davam uma falsa sensação de segurança, a partir deste ponto eles tinham certeza que não podiam voltar e que o único caminho era seguir em frente e sem parar, pois isso significaria congelamento já que não estavam totalmente preparados para enfrentar neve e a temperatura era em torno -10 graus e foi com o instinto de sobrevivência que mais uma vez, o Luis navegou sem enxergar qualquer trilha apenas o branco da neve tirando a dupla do sufoco de forma brilhante a noite inteira ate atingirem o refugio La Voyage a 1750m altitude e km 260 de prova por volta da 3:30 da manhã, o planejamento inicial era seguir sem parar, mas molhados e com muito frio foram obrigados a parar no refugio que com muita sorte havia uma pessoa no local, a qual ajudou a dupla brasileira com alimentação e abrigo a dupla decide então tirar um cochilo de 1 hora para poder se aquecer onde após o cochilo puderam tomar um reforçado café e sair ainda de madrugada com parte das roupas molhadas com a única missão de terminar a prova ainda no sábado, mas as fortes dores os impendiam de imprimir um ritmo mais forte principalmente nas descidas, mas sabiam que estavam bem na prova, pois ninguém desceu a montanha de Le totans naquele nevasca.
E surpreendidos logo após passarem pelo refugio de Canes no km 268, uma dupla francesa os ultrapassa, e logo na sequencia na descida para San Gervais, apontou uma dupla italiana, o que obrigou os atletas a apertar o ritmo mesmo com as dores na subida, e também na descida, onde o sofrimento era ainda maior. Com a pressão da dupla italiana, acabaram encostando na dupla francesa novamente, que haviam aberto mais de 10min, neste momento o Décio se obriga a fazer uma proposta de incentivo ao Luis, (com intuito de perder a aposta é claro) dizendo que se buscassem a dupla francesa, sem deixar a dupla italiana os ultrapassar o Décio pagaria o jantar, feito a aposta ambos se sentiram motivados, e antes do termino da ultima grande subida, a 2300m altitude, passaram a dupla francesa, o que incentivou ainda mais a equipe brasileira a descer com a euforia de estar finalmente chegando.
Estes últimos 5km de descida foram talvez os mais longos dos 300 km de prova e finalmente as 21h00 no centro de Chamonix, com muita gente nas ruas aplaudindo, a equipe D-run Fortitech Brasil cruza a linha de chegada após 119 horas em 6º lugar, com a bandeira do brasil em punho e extremamente emocionados, mas com um sabor de vitória, conquista, alma lavada, enfim uma emoção impar, e talvez o maior premio desta conquista é ser no final ovacionado pela população local, pois uma equipe que completa o PTL é considerado um herói pra eles pois sabem a grande dificuldade do desafio, e não deu outra, varias pessoas desconhecidas foram cumprimentar os dois brasileiros que se arriscaram neste grande desafio e tirar fotos.
O Brasil também foi bem representado pela equipe D-run Brasil no Ultra Trail nas outras provas que fazem parte da competição. No TDS prova de 110 Km e 7100 de desnível por André Arruda com o tempo de 27:51:30, Walter Rinaldo com o tempo de 29:52:36 e Giovanni Rinaldo com o tempo de 32:21:35 que concluíram a prova dentro do tempo estabelecido pela organização onde apenas o atleta Diones Godoi teve que abandonar a prova por ter tido problemas durante a corrida, também no CCC prova de 98 km com 5600 de desnível por Cyntia Terra com o tempo de 14:59:26 sendo ela a única brasileira na competição conquistando a excelente classificação de 8º Lugar no geral feminino, José Luiz com o tempo de 20:25:48 e José Corissa que não completou.
Para Décio Ribeiro particularmente foi uma reconquista de superação e autoconfiança, pois teve problemas nesta prova em 2010 e também porque cerca de 40 dias antes da prova, lesionou a panturrilha, ele agradece Luis, parceiro, amigo e navegador, pela paciência, confiança e cumplicidade, aos amigos que ficaram na torcida no Brasil o tempo todo, e seu patrocinador oficial, a empresa Fortitech de campinas, que sempre o apoia nestes grandes desafios, alem do apoio da Nutristore Suplementos.